
Sempre me perguntam como começou minha busca por compreender a complexidade – uma das disciplinas mais estratégicas na gestão de negócios e organizações.
De forma objetiva, começou na prática, nos meus primeiros passos profissionais, quando enfrentei desafios no ambiente corporativo.
Mas, pensando bem, as origens vêm de muito antes.
Nesse artigo, conto um pouco de minha trajetória pessoal e mostro como ela influenciou meus valores minhas escolhas profissionais.
Falo dos valores de excelência operacional em empresas globais, do impacto do pensamento sistêmico de Peter Senge e da resiliência cultural de Santorini.
Também resumo como se dá a aplicação prática das cinco disciplinas para criar equipes que aprendem e são de alta performance. E destaco como questionar modelos mentais enraizados e reconhecer fortalezas para navegar desafios.
Explico ainda o conceito de Corporate Co-Thinking e os três pilares para lidar com complexidade: Lidando comigo; Lidando com o outro; e Lidando com a situação complexa.
Por fim, trago insights de uma conversa muito rica que tive com Ken O’Donnell que ressalta a importância de primeiramente lidar comigo mesma, frente a situação complexa.
Também procuro explicar como toda essa bagagem me conduziu à minha especialidade: lidar com a complexidade.
Vem comigo!
1. Minhas raízes e a busca pelo conhecimento
A complexidade está presente desde cedo em minha vida.
Sou a caçula de um pai arquiteto e uma mãe química, que partiu precocemente, quando eu tinha apenas nove anos. Foi o suficiente para moldar muito do que sou. Minha mãe segue sendo uma grande influência. Deixou valores que carrego para a vida: a importância da família, do caráter e da disciplina; o amor pela música, o gosto pela delicadeza, a noção de amor e beleza em tudo que fazemos.
Já meu pai foi um grande mentor. Com ele, aprendi ter outro tipo de coragem – a de aceitar desafios para ele inéditos e, com naturalidade, estudar e se preparar para as empreitadas. Viúvo, ele se casaria novamente e me concedeu a oportunidade de ter uma segunda mãe, por quem sou profundamente grata por sua presença em minha vida.
Outras lições significativas têm origem no sítio de meu avô materno. Cresci em São Paulo, mas algumas das memórias mais preciosas vêm do interior, onde aprendi o valor da simplicidade e da conexão com a natureza.
Meu avô cultivava café, árvores frutíferas e eucaliptos, cuidava de gado e cavalos e, sobretudo, valorizava as pessoas que trabalhavam com ele no plantio de café.
Observar meus avós e minhas tias tratarem a todos com respeito e dignidade, enquanto gerenciavam o trabalho e o cuidado com a terra, é algo que me ensinou a relevância das relações humanas em qualquer ambiente.
Foi lá que percebi que tudo tinha seu propósito: evitar desperdícios, buscar eficiência e cuidar do coletivo.
Só anos depois, ao estudar Lean Manufacturing, entendi que muitos desses princípios já estavam presentes em minha infância – uma verdadeira filosofia de vida.
Todas essas experiências familiares e vivências marcaram profundamente a minha maneira de ver o mundo e me ajudaram a construir uma perspectiva de aprendizado contínuo.
O conhecimento é a ferramenta inicial que nos expande e nos permite navegar melhor por ambientes incertos. Foi essa busca permanente me levou a trilhar caminhos de aprendizado transformador, que delinearam a minha visão sobre sistemas, liderança e inovação.
2. Aprendendo a navegar na Complexidade
Minha formação em Engenharia e Administração de Empresas forneceu as bases técnica e estratégica para enfrentar desafios corporativos complexos.
No entanto, percebi que as metodologias tradicionais, apesar de úteis, não bastavam para enfrentar desafios mais dinâmicos. Essa inquietação me levou a buscar novas formas de pensar e liderar.
Minha introdução à complexidade começou com a participação na primeira turma de Black Belt formada na Unicamp a partir de uma parceria com a Compaq. Aprendi a usar ferramentas robustas de estatística e metodologias para resolver problemas de negócio. Mais importante: aprendi a conduzir equipes em busca de soluções para desafios desconhecidos. Esses projetos foram minha porta de entrada para a excelência operacional, que mais tarde implementei em empresas como Microsoft, Medtronic, Porto Seguro, Boston Scientific, impactando negócios no Brasil, no Canadá e na América Latina.
3. A vida é para ser simples
Em 2011, aprofundei-me no pensamento sistêmico no Schumacher College, onde aprendi sobre sustentabilidade e interdependência dos sistemas. Na biblioteca, descobri o livro Finding Our Way Leadership for an Uncertain Time, de Margaret Wheatley, que mudou minha visão sobre liderança em tempos de incerteza. Ela abre o primeiro capítulo assim:
Organizing
Foundation for Leadership,
There is a Simpler Way
The New Story is Ours to tell
The irresistible Future of Organizing
The Promise and Paradox of Community
Relying on Human Goodness
The best in Art and Life
Peter Senge
Margaret comenta que deu forma a seu livro em um lugar que ilumina como é viver em harmonia com a vida e uns com os outros, em Thera, também chamada Santorini na Grécia.
O livro foi um marco para minha busca exploratória da complexidade. Trouxe várias lições, entre elas a história de Thera (hoje Santorini), onde, após a erupção vulcânica que destruiu a ilha por volta de 1600 A.C., seu povo se uniu para reconstruí-la, preservando uma cultura de alegria, arte, beleza e harmonia profundamente conectada aos ciclos da natureza.
Esse espírito resiliente não apenas transformou Santorini em um símbolo de renascimento, mas também continua a inspirar todos que a visitam com seu equilíbrio perfeito entre tradição e renovação [mais detalhes em artigo completo na National Geographic].

Essa jornada continuou com o curso Foundation for Leadership, de Peter Senge, que apresentou as cinco disciplinas fundamentais que norteiam minha vida até hoje:
- Pensamento sistêmico;
- Domínio pessoal;
- Modelos mentais;
- Visão compartilhada;
- Aprendizado em equipe.
Essas cinco disciplinas formam a base para a criação de organizações que aprendem, algo que passou a ser uma aspiração central na minha forma de liderar.
O curso Foundation for Leadership, de Peter Senge, foi um divisor de águas ao mostrar como alinhar pessoas em torno de uma visão compartilhada e ajustar modelos mentais para enfrentar desafios complexos.
Logo após a conclusão do curso, apliquei os aprendizados com minha equipe em uma multinacional de dispositivos médicos, criando um ambiente de aprendizado que se tornou uma referência interna. Essa abordagem fomentou colaboração e inovação, permitindo-nos superar metas e atender aos desafios enfrentados por líderes da América Latina.
Em posts a seguir, compartilharei cases que ilustram como as cinco disciplinas transformaram minha equipe e a forma de lidar com a complexidade nas operações.

Meu mestrado em Desenvolvimento Organizacional Positivo na Weatherhead School of Management, Case Western Reserve University, foi outro marco. Aprofundou minha compreensão sobre os aspectos técnicos e humanos das organizações. E me ensinou a alavancar o potencial das pessoas para conduzir mudanças organizacionais em ambientes de alta complexidade.

4. Da excelência operacional à consultoria estratégica
A trajetória como líder de Excelência Operacional, apoiando executivos na América Latina e Canadá, consolidou minha experiência em transformar processos e promover culturas de melhoria contínua. Trabalhei com presidentes e líderes inspiradores, aprendendo sobre estratégia e tomada de decisão em ambientes corporativos globais.
Com mais de duas décadas de experiência em empresas nacionais e multinacionais nas áreas de Tecnologia, Seguro, Alimentos e Healthcare, já tive a honra de trabalhar com dezenas de executivos e líderes no Canadá e América Latina, atuando em áreas como Vendas, Marketing, Operações, Supply Chain, Qualidade, Regulatório, Mercado de Acesso, Jurídico e Finanças. Essa vivência me trouxe um olhar sistêmico e prático sobre os desafios das organizações e como eles impactam o negócio e as pessoas.
No entanto, sentia que poderia contribuir mais diretamente, ajudando líderes a lidar com complexidade de forma mais ampla. Essa transição me levou ao papel de consultora externa, onde atuo como Corporate Co-Thinker.
Cheguei a essa definição a partir de muitas reflexões.
Penso que muitos dos modelos mentais que carregamos estão tão profundamente enraizados que nem percebemos o impacto que têm em nossas decisões e formas de agir. No entanto, em um mundo cada vez mais volátil e interconectado, esses modelos frequentemente deixam de nos ajudar a entender a complexidade ou a encontrar novas maneiras de lidar com ela. É preciso questioná-los, desconstruí-los e abrir espaço para novas perspectivas que se alinhem melhor aos desafios atuais.
5. Complexidade invisível: um convite e três perspectivas para lidar com isso
Aprendi que a complexidade não é algo a ser eliminado ou temido, mas compreendido e utilizado como uma oportunidade para inovação. É nesse espírito que dou início a uma nova jornada com minha consultoria, dedicada a apoiar líderes a navegar pela complexidade com clareza e confiança.
Minha abordagem baseia-se no conceito de Corporate Co-Thinker, um consultor cuja premissa é a de ajudar líderes a identificar o melhor ponto de partida para enfrentar desafios complexos. Esse processo começa com o reconhecimento das fortalezas — dentro de nós mesmos, nos outros e nas situações que enfrentamos. Quando nos conscientizamos dessas fortalezas, conseguimos transformar barreiras em oportunidades, ganhando clareza e agilidade para navegar pela complexidade. Por meio de um processo colaborativo, cocriamos planos estratégicos que consideram o impacto no negócio, nas equipes e em stakeholders internos e externos, como clientes e parceiros.
Essa abordagem integra três pilares fundamentais para lidar com a complexidade
- Lidando Comigo: desenvolver autoconsciência (self-awareness) e autoconhecimento (self-knowledge), essenciais para desconstruir modelos mentais obsoletos e criar novos, que permitam navegar em um mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) e BANI (Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível). Este pilar destaca a importância do preparo interno para liderar em tempos de incerteza.
- Lidando com o outro: promover empatia, colaboração e construção coletiva, fortalecendo conexões humanas que são cruciais para enfrentar situações de incerteza. O engajamento da equipe e dos stakeholders é a base para implementar mudanças sustentáveis e inovadoras.
- Lidando com a situação complexa: aplicar pensamento estratégico, pensamento sistêmico e uma abordagem sociotécnica para mapear interdependências, identificar padrões invisíveis e transformar desafios em oportunidades. Este pilar requer habilidades contínuas de upskilling e reskilling, como destaca o World Economic Forum.
Esses três pilares são interdependentes e essenciais para construir a clareza necessária, aspecto essencial para lidar com a complexidade de maneira prática e sustentável.
Acredito que o papel de um líder seja o de criar pontes entre pessoas, processos e propósitos, promovendo inovação e confiança para navegar por ambientes desafiadores.
Recentemente, tive a honra de entrevistar Ken O’Donnell, consultor internacional e coordenador da Brahma Kumaris na América Latina, para explorar o tema “lidando comigo” em situações complexas e ambientes de incerteza. Essa conversa inspiradora reforçou a importância de investir no autoconhecimento como base para liderar em tempos desafiadores. Compartilharei, mais adiante aqui no LinkedIn, mais dessas reflexões e aprendizados ao longo desta nova jornada, mas já compartilho um trecho desse diálogo.
[Veja abaixo desse texto a primeira parte da minha entrevista com Ken O’Donnell]
6. Conclusão
Complexidade pode ser invisível à primeira vista, mas com as ferramentas certas e uma abordagem colaborativa, ela se revela como uma força transformadora.
Minha missão, como consultora e parceira estratégica, é apoiar líderes a enxergar e utilizar essa força, construindo soluções resilientes e inovadoras.
*Angela Okamoto é consultora e Corporate Co-Thinker. Com mais de 25 anos de experiência, ocupou posições de liderança no Brasil, América Latina e Canadá, em empresas como Compaq, HP, Microsoft, Covidien, Medtronic, Porto Seguro, Boston Scientific e Nutrimental. É formada em Engenharia Eletrônica e Administração pelo Mackenzie, com mestrado em Desenvolvimento Organizacional Positivo na Weatherhead School of Management, Case Western University.