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O jeito certo de errar: como lideranças podem aprender com erros inteligentes?

Existe uma forma certa de errar?

Sim, com certeza.
É o que nos ensina Amy C. Edmondson, professora de Liderança e Gestão na Harvard Business School.

Ela é autora de “O jeito certo de errar: como as falhas nos ensinam a prosperar” (Intrínseca, 2024) – lançado em 2023 nos Estados Unidos e Reino Unido com o título de ‘Right Kind of Wrong’ e que já conta com tradução para 24 idiomas.

Autora: Amy C. Edmondson | Tradução: Paula Diniz | Editora Intrínseca | Publicação: outubro de 2024.

 

Mas por que essa referência é relevante para falarmos de complexidade em ambientes organizacionais?

Explicamos aqui o porquê.

Em artigos e posts anteriores neste meu perfil no LinkedIn, abordamos a complexidade em três pilares:

(1) lidando comigo;

(2) lidando com o outro; e

(3) lidando com a situação complexa.

Durante dezembro e janeiro, os posts e vídeos foram sobre os dois primeiros pilares.  Agora, vamos nos dedicar a conteúdos sobre o terceiro pilar. E é fundamental reconhecer que nem todo erro é igual quando lidamos com uma situação complexa.

E nada melhor que esse livro, selecionado para o prêmio de Melhor Livro de Negócios do Ano do Financial Times e Schroders, para que possamos nos aprofundar essa reflexão.

Edmondson tem como ponto de partida trabalhos robustos sobre segurança psicológica para trazer uma estrutura sólida para pensar, debater e praticar bem a chamada “ciência do fracasso”.

A autora (foto abaixo) é uma referência no assunto.

Amy C. Edmondson, professora de Liderança e Gestão na Harvard Business School.

Amy C. Edmondson, professora de Liderança e Gestão na Harvard Business School.

Seu pioneirismo em temas como segurança psicológica lhe valeu reconhecimentos como o Thinkers50, ranking global semestral de pensadores em gestão, alcançando, inclusive, o primeiro lugar em 2021 e 2023.

Escreveu outros sete livros e tem artigos publicados em vários veículos acadêmicos e de gestão, incluindo Administrative Science Quarterly, Academy of Management Journal, Harvard Business Review e California Management Review.

O que ela escreve merece ser lido com atenção.

E Edmondson aponta que, historicamente, associamos fracasso ao oposto do sucesso. É comum, portanto, ficar dividido entre duas perspectivas extremas sobre o erro: uma que prega evitá-lo a todo custo e outra que sugere aceitá-lo sem restrições.

O problema é que ambas falham em diferenciar erros produtivos de erros prejudiciais. Como resultado, perdemos a oportunidade de aprender e crescer com os erros da maneira certa.

É este o tema deste texto a seguir.


1. O jeito certo de errar: como aprender com os erros e criar ambientes de inovação

Erros sempre foram vistos como inimigos do sucesso.

Durante muito tempo, empresas, líderes e profissionais buscaram minimizar falhas a qualquer custo, acreditando que evitá-las seria a chave para um desempenho impecável.

No entanto, Amy C. Edmondson desafia essa visão tradicional. Em seu livro “O Jeito Certo de Errar”, ela apresenta uma abordagem revolucionária sobre como lidar com os erros de maneira produtiva e transformadora.


2. Os três tipos de erros e seu impacto

Edmondson classifica os erros em três categorias principais:

a) Erros evitáveis: decorrentes de descuido, negligência ou processos pouco planejados. Esses devem ser minimizados ao máximo.

b) Erros complexos: originados em sistemas interdependentes, onde múltiplos fatores influenciam os resultados. Aqui, o aprendizado e a adaptação são essenciais.

c) Erros inteligentes: ocorrem em contextos de experimentação e inovação, quando há tentativa de criar algo novo. São esses que devem ser incentivados.


3. A cultura do medo versus a cultura de aprendizado

Empresas que punem erros de forma indiscriminada acabam promovendo um ambiente de medo, em que os funcionários se tornam mais preocupados em se proteger do que em inovar. Isso gera silos organizacionais, falhas na comunicação e relutância em admitir vulnerabilidades.

Por outro lado, errar faz parte do processo de evolução e isso deve ser reconhecido com tranquilidade em qualquer organização que privilegie uma cultura de aprendizado.

Nesse ambiente, os líderes incentivam seus times a compartilhar falhas, discutir aprendizados e implementar melhorias com base nos erros identificados. Para isso, é essencial que os líderes adotem uma postura de humildade e incentivo ao aprendizado contínuo.


4. Psicologia de segurança: o pilar para uma organização resiliente

O conceito de segurança psicológica, amplamente estudado por Edmondson, é um dos pilares fundamentais para criar ambientes nos quais as pessoas se sintam à vontade para errar e aprender com esses erros.

Em uma organização com alta segurança psicológica, o ambiente tem as seguintes características:

• As pessoas se sentem confortáveis para expressar suas ideias sem medo de retaliação;

• O feedback é incentivado e tratado como uma oportunidade de crescimento;

• Os erros são analisados para que todos possam aprender com eles, sem que haja culpabilização excessiva.


5. Liderança e o papel na gestão dos erros

Os líderes têm um papel crucial na forma como os erros são percebidos dentro das organizações.

O modo como um gestor reage a um erro pode determinar se a equipe se sente segura para compartilhar aprendizados ou se opta por esconder falhas.

Nesse contexto, Edmondson sugere algumas práticas para líderes interessados em transformar erros em oportunidades de crescimento:

a) Admitir os próprios erros – Líderes que demonstram vulnerabilidade criam um ambiente onde os outros se sentem mais confortáveis para assumir falhas.

b) Fomentar uma comunicação aberta – Criar canais pelos quais os colaboradores possam relatar problemas sem medo de represálias.

c) Premiar o aprendizado, não apenas os acertos. Valorizar equipes que testam hipóteses, mesmo quando o resultado não é o esperado.

d) Estabelecer rituais de aprendizado – Promover reuniões de retrospectiva e análises pós-projeto ajudam a consolidar aprendizados e evitar repetições de erros prejudiciais.


6. O impacto dos erros na transformação organizacional

Empresas que entendem o valor dos erros inteligentes são mais ágeis e adaptáveis às mudanças.

No cenário atual, em que a complexidade e a incerteza são constantes, organizações que privilegiam uma mentalidade de aprendizado conseguem se diferenciar e prosperar.

A inovação depende da experimentação, e a experimentação, por sua vez, depende da disposição de errar. Edmondson cita exemplos de empresas que utilizam o conceito de fail fast, learn faster (falhe rápido, aprenda mais rápido, em tradução livre), pelo qual é a interação contínua o fator que permite ajustes ágeis e melhorias constantes nos produtos e serviços oferecidos.


7. Conclusão: errar é um passo rumo ao sucesso

Errar não é o problema – o problema está em não aprender com os erros. E esse é um dos grandes aprendizados com “O jeito certo de errar: como as falhas nos ensinam a prosperar”.

Para indivíduos, equipes e organizações que desejam crescer, a chave está em desenvolver uma cultura de aprendizado, pela qual os erros são vistos como oportunidades de melhoria.

O jeito certo de errar não é evitar falhas a todo custo, mas sim criar sistemas e mentalidades que permitam aprender com elas. Quando erros são tratados com inteligência e responsabilidade, eles se tornam trampolins para inovação, crescimento e excelência organizacional.

Se queremos construir ambientes mais criativos, colaborativos e resilientes, precisamos reformular nossa relação com os erros.

E, conforme argumenta Edmondson, o primeiro passo para isso é criar espaços onde seja seguro aprender – mesmo que isso signifique, de vez em quando, errar no caminho.

MAIS CONTEÚDO

Vale muito a pena ver este vídeo disponível em inglês no canal Big Think, no YouTube!

Amy Edmondson faz um resumo de seu livro ‘Right Kind of Wrong’.

São pouco mais de 7 minutos e ótimos insights.

Aqui está o link: https://www.youtube.com/watch?v=Gb9tjnJWu5g